SUPER ATUAL
CRISE/ GERAÇÕES X e Y
Como o RH pode driblar a crise e ajudar a manter os talentos da empresa
A primeira mudança necessária é que esses profissionais entendam que crises são cíclicas, e mesmo que profundas, transitórias.
João Roncati*
As pessoas estão com medo. Medo do que vai acontecer com o país,
medo de perderem seus empregos, medo de não conseguirem pagar suas
contas no fim do mês. E um ambiente volátil e potencialmente tão
negativo, reflexos imediatos surgirão no ambiente de trabalho, que pode
passar a ser pesado e pouco produtivo. O que o RH pode fazer para
espantar a crise e melhorar o clima organizacional? A primeira mudança
que enxergo como necessária é que esses profissionais entendam que as
crises são cíclicas, e mesmo que profundas, transitórias. Por isso é
preciso sempre estar preparado.
Nas redes sociais encontramos muitos textos exaltados falando que o
Brasil nunca passou por um momento tão ruim. Posições políticas à
parte, precisamos entender que crises vão e voltam.
Considerando que são
eventos cíclicos, já está na hora de considerarmos que “crises” fazem
parte de nossa história e não são “defeitos” dela. Peter Senge (Dança da
Mudanças e Quinta Disciplina) já dizia que devíamos parar de ver
“mudanças” como defeitos na linha do tempo, e enxergá-las como
componentes “normais” do ciclos de vida e das organizações. O que
sabemos é que lidar com crises, mudanças, não é fácil.
Dentro
das empresas, estes devem ser momentos de muito trabalho para os
setores de Recursos Humanos. Com governos e grandes instituições
envolvidas em escândalos, a população fica cada vez mais desacreditada
das organizações de uma forma geral.
Mesmo que a sua
empresa não esteja envolvida em nenhum escândalo, a volatilidade na
economia e na política, alteram as dinâmicas sociais. As pessoas estão
tensas. As conversas paralelas são constantes e sempre existe um clima
de “quem é a próxima vítima”? E se o riso pode aparecer nos primeiros
comentários, é o desalento que prevalece. Isto está presente na
baixíssima disposição em investir demonstrada em várias pesquisas
recentes sobre o humor e o (não) otimismo de empresários e fundos de
investimentos. Com quedas nas vendas atingindo quase todos os setores da
economia, a tônica diária passa a ser viver a insegurança de poder ser
mandado embora a qualquer momento. Daí, surge especulação, ansiedade e
insegurança que podem deixar seus funcionários extremamente
desmotivados. Mesmo que conscientemente eles queiram fazer um bom
trabalho para garantir seu lugar na empresa, sua atenção dividida com a
preocupação pode afetar muito seu desempenho.
Neste
cenário, a responsabilidade de um líder toma uma proporção ainda maior.
Segundo pesquisa realizada pela Harvard Business Review, 70% de
variação no clima organizacional pode ser explicado pelas diferenças nos
estilos de liderança. Esta variação no clima é responsável por 28% de
variação nos resultados financeiros (faturamento e lucro)! Assim,
disposição e capacidade de mobilizar os profissionais, fará toda a
diferença em alta ou baixa performance. O que implica também dizer que
um líder que saiba conduzir sua equipe com honestidade e cultivando
confiança é capaz sim de influenciar os resultados financeiros da sua
empresa e melhorar sua capacidade de competir num mercado tão difícil. O
líder precisa estar disposto, preparado e instrumentalizado. Cabe ao RH
auxiliar na preparação deste líder!
Um
primeiro passo fundamental é ampliar a comunicação e o compartilhamento,
construindo momentos que chamo de “conversas de adultos”: ser otimista
(papel vital do líder) não é dizer “está tudo bem” quando não está. Isto
é infantilizar o relacionamento. Ser otimista é construir oportunidades
num ambiente de crise. Construir contextos.
As
gerações chamadas Baby Boommers e X - prezavam pelo seu trabalho na
busca de segurança financeira. Buscar estabilidade, “construir uma vida
segura e saudável” foram lemas destes grupos. Mas com a revolução
(evolução) no mercado de trabalho, oportunidades surgiram e uma nova
visão sobre o trabalho nasceu.
Ao mesmo tempo o
mercado acolheu as gerações chamadas de Geração Y e Milleniums,
profissionais hoje na faixa de 20 a 30 anos. Estas novas gerações trazem
mudanças em valores e na forma como “se conectam” as organizações: “as
pessoas passam mais tempo trabalhando do que com seus amigos e
familiares, vale a pena fazer algo em que não acreditam?” ou “será que
toda a satisfação da vida está no trabalho e na família?”. Para as
novas gerações, a resposta é não. Ter um propósito no seu trabalho,
acreditar no propósito da organização a que dedicam o melhor de seu
tempo, respeitar e acreditar na postura do seu líder e ter satisfação no
dia a dia tornaram-se questões tão importantes quanto salário e
benefícios.
Essa postura, essas crenças,
tornam o profissional mais volátil: ele busca novas oportunidades com
facilidade, vincula-se menos, quer estabelecer relacionamentos “menos
duradouros”. Por outro lado, podem ser verdadeiros defensores de marca
se um propósito lhes é oferecido. Gerações que têm sede e anseio de
afiliação.
Profissionais talentosos tendem a
ser mais informados e mais críticos, portanto, muito mais sensíveis na
sua vinculação com as empresas, muito mais voláteis no tempo de
relacionamento e mais ágeis para provocarem mudanças: até para ir
embora!
Algumas organizações já perceberam o
valor disto e estão reconstruindo seus propósitos: o “por quê” existem.
Um profundo fortalecimento de algo essencial: o que justifica sua
existência e que valor geram para sociedade. Mais do que vender
produtos, empresas que descobriram a força da construção de uma
identidade com funcionários e clientes, constroem relações duradouras,
cultivam fãs. E, se seus profissionais não acreditam no propósito de sua
empresa, se é o que o entendem, como você espera que transmitam
credibilidade aos seus clientes? Acredite, um propósito faz toda a
diferença. Numa crise, muito mais.
Para os
profissionais de RH, meu conselho é: preparem-se, pois esta não é a
primeira nem a última crise pela qual passaremos! Observe com cuidado e
conheça em profundidade seus profissionais, atue e instrumentalize a
liderança de sua empresa, influencie para que propósitos reais sejam
construídos e disseminados! A Era do Capital Intelectual finalmente
chegou: a capacidade humana é a base do sucesso e do fracasso e o maior
diferencial em qualquer empreendimento da vida moderna.
Este artigo é de autoria de João Roncati (diretor da consultoria People+Strategy)
REVISTA VOCÊ RH
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